quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

GOSTAR-ME-IA DE PARAR O TEMPO

O despertador toca e são exatamente 6 horas da manha. O sol brilha lá fora e o dia está maravilhoso. Desligo o despertador, permaneço em silêncio absoluto e posso sentir a vida que se instala em meu corpo. Agradeço ao Deus da minha salvação pela dádiva de poder abrir os meus olhos e contemplar o milagre de estar viva por mais um dia.

Ainda no deleite da minha maravilhosa cama, percebo que estou cansada, exausta e definitivamente queria poder fazer a escolha de permanecer deitada, não ter que enfrentar mais um dia de grandes desafios.
Gostaria de estar em casa hoje, cozinhando, passando roupa, limpando a casa, ouvindo músicas, lendo, organizando minhas coisas, fazendo bolo de chocolate, alongando meu corpo, dançando forró na sala do meu apartamento ou simplesmente fazendo nada. Gostaria de permanecer no ócio por algumas horas.
Tudo Deus, menos sair da minha cama, da minha casa e da minha ociosidade...
Permanecer na inércia por um dia seria uma condição maravilhosa nas atuais circunstâncias da minha vida.
Que saudade da minha infância e da minha adolescência, onde compromisso e desafios eram palavras abstratas e completamente desconhecidas!
O que me tornei? Uma pessoa condicionada. Sou controlada diariamente pelo meu próprio instinto de vaidade e exigências. Preciso estar sempre em forma. Não posso comer gordura porque ela causa câncer e colesterol. Tenho que beber dois litros de água por dia para evitar celulite e estrias. Tenho que estar depilada, sorridente, cheirosa, com as unhas impecáveis, muito bem vestidas e sempre em cima do salto. Não posso perder o controle. Não posso xingar um palavrão porque serei julgada. Não posso falar tudo que penso porque as pessoas me observam.
Não me bastando a vaidade e as exigências pessoais, me são apresentada diariamente às cobranças sobre o fator profissional. Preciso ser mestrada, doutorada, pós-graduada, falar mais de dois idiomas e ter experiência, muita experiência, mesmo que seja para não fazer nada com o fator conhecimento... Tenho que ler, me atualizar, absorver milhares de informações e me tornar uma pessoa culta.
Quem me dera tivesse o dom e a ousadia de parar o tempo... Pediria a ele que voltasse outra hora, outro dia, que voltasse em outra vida ou no próximo ano.
Onde arrumar tanto tempo para tantas coisas?...
Quero pedir ao tempo que ele me conceda o seu tempo para eu amar mais, compartilhar mais, sorrir mais, desfrutar mais e influenciar positivamente a vida de outras pessoas.
Quero pedir ao tempo que me livre do calabouço das imprudências de minhas próprias atitudes que me levam para longe de Deus e das coisas que são realmente importantes na vida.
Gostaria de clamar ao tempo que conserve a minha juventude mesmo que meu corpo envelheça, mas que minha mente permaneça em vitalidade.
Quero pedir ao tempo que me conceda tempo e que o tempo concedido não me leve ao desperdício de minhas ações, mas que me faça desfrutá-lo ao máximo, consumindo a totalidade desse tempo vivido em maravilhosas e grandiosas ações.
Então levanto da cama, saio da minha ociosidade e vou rapidamente tomar um banho, volto à realidade e recordo-me que estou na triste condição de humana, sem a menor capacidade de parar o tempo e mudar o curso da história.
Rita de Cássia Rodrigues (29/12/2010)

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

INDIGNAÇÃO NACIONAL

Tamanha é a minha indignação com o governo que administra nosso país.

Tamanha é minha indignação com os absurdos gastos públicos que nosso suado dinheiro financia.

Estou indignada com essa nação onde a bolsa família vale muito mais que o investimento na educação.

Apesar de ser uma cidadã brasileira, tenho consciência de que a Constituição desse país não me abrange, posto que só tenho obrigações, tais como: pagar impostos, tributos, tributos, tributos, taxas e impostos novamente. Ainda tenho que me sentir feliz por ser considerada “classe média alta”, uma vez que ganho um pouco mais que alguns salários mínimos e moro em um bairro médio da grande São Paulo. 

E quanto aos meus direitos? Esses são privilégios dos excluídos! Esse país não me deu uma boa educação, não me deu acesso à saúde pública, não me ofereceu segurança e ainda hoje não me oferece nada disso.  

Se me alfabetizei foi à custa de meus pais, quando pequena. Se fiz faculdade, pós-graduação e MBA, foi à custa de meus próprios esforços e muita, muita dedicação. Não foram poucas as vezes que passei fome para sobreviver e pagar a alta mensalidade do meu curso de administração de empresas. E o que o governo fez por mim? Até hoje estou tentando descobrir.

Saúde Pública? Coisa que conheço somente de ouvir falar, ou quando se divulga as manchetes comunicando que um novo imposto será cobrado com destino à melhora da saúde pública no país. O mais engraçado: essa verba nunca chegou ao meu alcance. Infinitas foram às vezes que esperei nas filas dos hospitais públicos para receber um atendimento médico e quando recebia era de péssima qualidade. Não obstante, logo que iniciei minha carreira, me afugentei em um plano de saúde particular, custeado por meu árduo trabalho. E o governo? Ele permanece na sua inércia!

Segurança? Sinônimo de utopia nesse país. Nós, os pobres mortais, não temos direitos humanos e sim, o dever de permanecermos trancafiados em edifícios e condomínios fechados, pagando exorbitantes taxas de condomínio, onde no valor estão inclusos portões, câmeras internas de segurança e demais sistemas de proteção que nos são apresentados a título da ilusória sensação de segurança. E o governo? Creio que o governo está preocupado com a difícil tarefa de administrar os cofres públicos.

E o que dizer dos seguros? Pagamos seguro para todo tipo de roubo: casas, carros, celulares, câmeras fotográficas, motos, bicicletas, tudo é válido. E quando roubam as nossas vidas? Será que o seguro que pagamos por estarmos mortos tem significado diante do nosso desaparecimento da face da terra?

Sabe o que é mais interessante? O que a grande maioria prega: “Não reagir quando os excluídos te agredirem para apropriar-se de sua vida e de seus pertences, continuem pacíficos, visto que os excluídos podem estar armados e colocarem um fim na sua vida”. E o mais legal é saber que dificilmente vão prender o marginal que supostamente tirou a sua vida e destruiu a vida da sua família. Afinal, menor de 18 anos, mesmo que saiba pensar, escrever, ler, tem vontade própria e for mais inteligente que você, se matar um pai de família é protegido pela lei brasileira porque é MENOR DE IDADE.  E o governo? Acredito que o governo está ocupado demais administrando a verba que será distribuída aos parlamentares para adquirirem seus ternos de grife. 

Já não acredito que vala algo o meu posicionamento. Como explicar o óbvio diário constatado no desemprego, na má educação, na marginalidade, na criminalidade, na impunidade, nas drogas, na falta de amor e na falta de Deus? Onde está tu governo? Onde está tua falácia em época de eleição?

Não consigo entender esse ser ALIENÍGENA intitulado “Gastos Públicos”. Onde está o meu dinheiro? Nunca vi a cor dele em nada que me foi apresentado até os dias de hoje.  O que ganho em pagar meus impostos em dia e não atrasar as minhas contas?

Cheguei a triste conclusão que o governo quer desviar a nossa atenção para a triste realidade em que se encontra esse país. Inaceitável a condição que nos encontramos, tendo que pagar para termos segurança, para termos acesso à saúde e para educarmos nossos filhos decentemente.

Quanto a mim, se deixar de pagar as minhas contas e meus impostos sou negativada.

Meu direito? Creio que seja custear os marginais, os assassinos, os estelionatários, os sequestradores, os muitos traficantes que acabam com milhares de famílias, aterrorizam a nossa sociedade e aniquilam quaisquer valores até então almejados. Os que meu dinheiro custeia lotam os presídios e reivindicam condições melhores, possuem acesso a celular, comandam o trafego de dentro das cadeias e fazem acordo com policiais corruptos. O que o meu dinheiro custeia são os responsáveis por esse país de tantas injustiças.

Por várias vezes tentei negar, mas cheguei ao inevitável encontro da indignação e nesse estado permaneço.
Rita de Cássia Rodrigues. (12/2010)