terça-feira, 19 de outubro de 2010

O INFERNO DAS MINHAS CULPAS

Acredito ter visitado o inferno nos últimos meses. Não sei como consegui entrar nesse caminho, mas simplesmente entrei. Não existem respostas e já desisti de encontrá-las. Visitar o inferno mesmo em vida é uma experiência horrível, da qual não gostaria de viver novamente. Não precisei estar morta e enterrada para conhecer a dor das chamas. O inferno me machucou mesmo em vida e me apresentou sua face macabra e seus horrores.

Apeguei-me nas minhas impossibilidades e fui pelo caminho que meu coração enganoso julgou ser o mais fácil. Mas a verdade é que escolhi o caminho de entrada para o inferno e lá permaneci durante minhas escolhas equivocadas.
Vivi o inferno do engano e da mentira, causando dor ao meu próprio coração. Esse caminho é perigoso e roubou a minha alma, roubou a minha essência e me tornou pequena diante da grandiosidade Santa de Deus.

Infelizes são os homens que, apesar de aparentemente livres, vivem presos no cárcere de suas culpas e de suas emoções, conduzidos pelo medo de serem criticados, desprezados e julgados. Eu vivi assim, não tive espaço para refletir sobre a situação que me ameaçava. Preferi fugir ao enfrentar a luta.

Uma pessoa agredida, ofendida, desprezada, com sua auto-estima abalada, condenada por algo que não fez e acusada de infidelidade, raramente consegue administrar as suas atitudes e seus pensamentos. 

Compreendi que o mundo não deve exigir lucidez de uma pessoa quando essa mesma pessoa apresenta feridas profundas no coração e uma angústia avassaladora na alma.

Entendi também, no meu sofrimento, que não poucas vezes causamos muito dano às pessoas que amamos e fazemos delas a nossa lata de lixo para depositarmos as nossas muitas dores e frustrações. Infelizmente somos controlados pelas nossas próprias emoções.

Aprendi em meio às dores, que somente os que compreendem e aceitam as próprias limitações são capazes de entender as deficiências e as limitações do seu próximo. As pessoas mais críticas e rígidas para com o próximo, são as que menos entendem as áreas obscuras do seu próprio ser.

Regressar é difícil, pois agora vivo o inferno da culpa. Que tormento é a dor da culpa! Qualquer ser humano culpado conhece o tamanho da opressão que vive!

Sentir a dor da culpa foi como se eu tivesse uma doença nos ossos que me consumia a cada dia. Sentia como se um ácido ferroso derretesse a minha estrutura e não podia me livrar da dor. A culpa me consumia todos os segundo, minutos, horas e dias.

Sentia como se eu precisasse de muitos açoites para conseguir a redenção da minha alma. Senti em minha alma uma ferida exposta, um nervo latejando constantemente, me fazendo consumir na minha insignificância.

Dos meus erros arranquei lágrimas. Como conseguir então a minha redenção?

Fui açoitada, condenada, julgada e senti a forte dor do julgamento daqueles que vivem suas verdades absolutas. Aqueles que vivem verdades absolutas tendem a usar o poder que têm para dominar os outros e os que eles não conseguem dominar são exterminados. Eu fui exterminada!

Entendi que muitas pessoas têm a necessidade doentia de que o mundo se afine às suas verdades e às suas idéias. Se um ser humano tropeça, erra ou apresenta algum tipo de doença emocional, essas pessoas (soberanas) são as primeiras a erguer-se em julgamento rejeitando os que pensam de maneira diferente, e os que cometem algum tipo de delitos são eliminados.  

A culpa não sede. Ela é incapaz de nos permitir seguir em frente. Ela nos persegue aniquilando todas as nossas iniciativas, aniquilando a nossa esperança.

Conheci pessoas ruins, homens nefastos que roubaram a minha alma. Sentei na roda dos escarnecedores e permiti que meu espírito conhecesse o inferno ainda em vida. Senti o punhal da traição rasgando as minhas vísceras e resgatei os meus traumas. Não soube como reagir e então ofusquei os meus valores.

Hoje aceitei a vocação de lutar contra o inferno que assolou a minha alma, que me assustou e me afrontou, deixando feridas profundas, das quais não tenho certeza se vão cicatrizar um dia.

Descobri que de todos os caminhos o maior é Deus, e o caminho da oração é algo sobrenatural.

Na passagem pelo inferno descobri que tenho um Deus que me ama e que me trouxe novamente à vida e me deu uma nova direção. Encontrei em Deus a força que eu precisava para regressar à minha essência. Encontrei em Deus o caminho para a verdade que nos proporciona vida e da qual eu quero viver.  

Descobri também que tenho uma família maravilhosa e amigos incríveis, que me conhecem e sabem quem eu realmente sou, pessoas que conhecem os meus valores e não obstante me apoiam, independente dos meus erros.

Quero beijar a justiça e quero fazer da verdade absoluta o meu caminho para a redenção.

Aprendi com tudo isso que é muito difícil governar os nossos sentimentos e as nossas emoções e que não podemos ser líderes no nosso próprio mundo.

Aprendi ainda que tenho que amar o meu próximo e tentar ajudá-lo, estender a mão e não criticá-lo.

Que Deus me ajude a amar os miseráveis deste mundo, aqueles que cometem erros e são humilhados, visto que facilmente aqueles que apontamos o dedo e acusamos são os seres humanos que possuem um coração muito melhor que o nosso.

(Rita de Cássia Rodrigues - Outubro de 2010)

Um comentário:

  1. Oi Rita, sinceramente me vi nas suas palavras "O inferno das minhas culpas" não sei o que aconteceu contigo, mas confesso que vivi tudo, mas tudo o que escreves neste relato. Parabéns pela a coragem de expor os seus sentimentos, eles são preciosos e únicos. São seus. Gostaria muito de me sentar contigo e conversar, casa queira. Bem, o que nos resta é seguirmos enfrente, sem medo do que há de nos acontecer, e simplesmente seguir. bjs

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